A fogueira
Certo dia em um passeio com meus amigos, Liara me contou essa história e eu gostei tanto dela que serviu me serviu de inspiração.
Em uma sexta-feira, haveria um feriado e meus colegas de faculdade me convidaram para viajar com eles.
Concordei e, na sexta, às 6 da manhã, eles já estavam na minha porta. Téo, o mais velho do grupo, havia alugado uma van para a viagem.
Peguei minha mochila, onde carregava apenas algumas roupas e comida para o final de semana, e me juntei aos meus amigos.
Ao entrar na van, quis saber:
— E então, para onde vamos?
— Decidimos viver um dia de filme de terror — respondeu Liara, de forma misteriosa.
— Como assim? — perguntei.
— Nós vamos para o interior, acampar no meio de uma floresta — explicou Ricardo.
Adorei a ideia, nunca acampei e adoro a natureza. Parecia o plano perfeito, desde que não virasse um filme de terror.
Aposto que a ideia foi do Ricardo, ele adora essas coisas, faz trilha, caminhada e até escala. Pense num homem gostoso… Digo, digo… Ah, foda-se, vamos continuar a história.
Antes de seguirmos viagem, passamos na casa de Jonathan para buscá-lo. Ele é um garoto tímido, mas muito legal, do tipo que não para de falar quando cria intimidade o suficiente.
Ele chegou todo empolgado, também gostou muito da ideia do acampamento.
Seguimos viagem por mais ou menos 3 horas. A princípio, seguíamos em uma rodovia, mas em certo momento entramos em uma estrada de terra, e continuamos nela por mais meia hora, até chegar em um lugar muito isolado e cheio de árvores.
Não havia mais ninguém por perto, nem mesmo sítios ou fazendas.
— Perfeito, o filme de terror já pode começar — zombou Liara.
Nós montamos as cabanas, exploramos as trilhas do lugar, almoçamos e ficamos jogando baralho até escurecer.
Durante a noite, os meninos tiveram a ideia de acender uma fogueira, e Liara contou que havia comprado marshmallows para assarmos, igual aos filmes.
Saímos andando pelas trilhas para pegar galhos e usar como lenha, enquanto Téo tentava acender o fogo com um isqueiro em algumas folhas secas.
Assim que acendemos a fogueira, nos sentamos ao redor dela e começamos a assar os marshmallows, e Ricardo pediu o isqueiro emprestado para Téo, para acender um baseado.
Nós comíamos e fumávamos, quando Jonathan perguntou:
— E então, alguém aí sabe uma história de terror?
Liara disse que conhecia uma, e começou a contar:
— Era uma vez, cinco jovens acampando no meio da floresta, assim como nós estamos fazendo agora — ela nos encarou e fez suspense por alguns segundos. — Eles também estavam em um lugar muito afastado, sem sinal de celular e sem nenhuma casa por perto. Os jovens estavam se divertindo muito, até decidirem acender uma fogueira para assar marshmallows, como nos filmes — pausa dramática novamente. — Eles acenderam a fogueira com facilidade e ficaram conversando e fumando um baseado, até que a fogueira começou a se apagar. Percebendo que precisavam de mais lenha, Emily, uma das garotas, decidiu sair para procurar.
“Ela andou por alguns metros e rapidamente encontrou um galho caído, e mais à frente outro, e outro, e outro. A cada dois ou três metros à frente, Emily encontrava mais lenha. E assim seguiu até decidir que já tinha pegado lenha o suficiente e que deveria voltar para o acampamento.
No entanto, ao olhar ao redor, não conseguiu ver seus amigos, nem a fogueira. Entrara demais na floresta e agora estava perdida.
Ela gritou por socorro várias vezes, mas seus amigos pareciam não ouvir. Desesperada, Emily já estava começando a chorar, quando virou a lanterna de seu celular para o chão e percebeu que deixara pegadas.
Assim, apenas seguiu as pegadas por alguns minutos, até que viu um fogo aceso mais adiante.
Aliviada, ela correu em direção ao acampamento gritando para seus amigos. Porém, eles não a responderam. E, ao se aproximar, ela entendeu o porquê.
Seus amigos não podiam gritar, pois suas línguas foram arrancadas, não podiam correr, pois suas pernas estavam quebradas e os ossos estavam expostos. Não podiam se mover, pois estavam amarrados pelo pescoço e pela cintura, e não podiam se soltar, pois seus braços foram decepados.
Ao ver o terror dessa cena, Emily gritou, desesperada, tentou ajudar seus amigos, mas eles já estavam morrendo engasgados no próprio sangue.
Ela tentou correr, mas nesse momento sentiu uma mão segurando-a pela cintura, enquanto outra tentava puxar sua língua para fora.”
— Cacete, de onde tirou essa lenda? — Téo perguntou, claramente assustado.
— Eu acabei de inventar — Liara respondeu.
— Você é uma psicopata — comentou Ricardo.
Alguns minutos se passaram, continuamos conversando e já havíamos até esquecido da história até que a chama da fogueira começou a se apagar.
— Temos que pegar mais lenha — falou Téo.
— Tá maluco? Depois da lenda que a Liara contou, prefiro dormir no escuro! — exclamou Jonathan.
— Tá com medinho? É só uma história! — Zombou Liara.
Foi então que tive uma ideia.
— Eu vou — falei, e segui andando pela trilha.
Andei por alguns minutos, até ficar a uma distância boa do acampamento, e comecei a gritar.
"Socorro, me perdi, me ajudem!"
Ao longe, escutei eles conversando, pareciam em dúvida se viriam atrás de mim ou não.
Continuei gritando, até que eles decidiram se separar para me procurar, enquanto Ricardo ficou no acampamento, para caso eu voltasse.
Dei a volta no acampamento e entrei em silêncio, para surpreendê-lo. Aproveitando que os outros estavam me procurando, o chamei para entrar na barraca, arranquei sua camisa para ver aquele tanquinho perfeito, e o fiz de cadeira.
Algum tempo depois, Liara desistiu de me procurar e voltou para o acampamento.
Téo ficou andando pelas trilhas gritando meu nome, e como não respondi, ele também acabou voltando.
Por fim, decidi chamar Jonathan, que não havia voltado ainda.
— Jonathan? — gritei. — Eu já achei o acampamento, pode voltar!
Ele voltou e, assim que chegou, deu um grito. Téo, Liara e Ricardo estavam amarrados pelo pescoço, com suas línguas arrancadas, pernas quebradas e braços decepados. Eles começaram a engasgar no próprio sangue, e foi nesse momento que agarrei Jonathan por trás…
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