Clube do medo
Prólogo
Olá, meu apelido é May, tenho 13 anos e faço parte de um clube.
O clube do medo é um grupo que meus amigos e eu criamos para nos divertir, já que adoramos filmes de terror, histórias assustadoras, lendas urbanas, creepypastas, e coisas do tipo.
Nós nos divertimos muito e vivemos várias aventuras assustadoras, então decidi narrar algumas delas aqui.
Criação do clube do medo
Fernanda, Everton, Leonardo e eu estávamos na escola, terminando um trabalho de história, aquela aula era sempre um tédio, olhávamos para o relógio a cada segundo, mas o tempo não passava.
Estávamos conversando quando Nanda fez uma sugestão:
— Sabe, podíamos nos reunir na minha casa hoje, falo para os meus pais que vamos terminar um trabalho da escola, e, como eles vão sair de tarde, podemos assistir a filmes de terror.
— Ótima ideia — eu disse.
Todos nós concordamos com o plano.
Mais tarde naquele dia, todos foram à casa da Nanda levando livros e cadernos e, assim que os pais dela saíram, nós conectamos o computador na TV e começamos a assistir Invocação do mal.
Continuamos vendo filmes até que tive uma ideia:
— Gente, e se criássemos um clube, para ver filmes de terror toda semana, contar histórias assustadoras e, quem sabe, poderíamos até fazer um passeio em um lugar assombrado.
— Que boa ideia! — disse Leo.
Todos nos assustamos quando ele respondeu, porque ele nunca prestava atenção em nada e estava sem falar há muito tempo.
— Só tem um problema, meus pais nunca me deixariam fazer parte de um clube assim, então ninguém, além de nós, pode saber disso — falou Nanda.
— Certo, nós podemos falar que é um clube para estudar matemática ou algo do tipo — comentou Everton.
— Ok, e qual seria o nome do grupo? — perguntou Leo.
— Que tal clube do medo? — sugeri.
Todos concordaram com o nome e começamos a decidir tudo sobre o clube, ficamos horas conversando, pois tínhamos muitas ideias.
Então montamos um grupo no WhatsApp para decidirmos onde e quando seriam as reuniões, e combinamos de nos encontrar no intervalo da aula no dia seguinte, no porão do colégio…
No dia seguinte, esperamos até o intervalo que parecia não chegar nunca, mas, finalmente, o sinal tocou.
Esperamos todos saírem da sala para não nos seguirem e fomos para o porão. Lá decidimos as seguintes regras:
1- Nenhum adulto poderia saber do clube.
2- Todo sábado iríamos para um lugar assustador para nos reunir.
3- Nas reuniões cada um levaria um filme, contaria uma lenda urbana ou nos ensinaria um jogo novo.
4- Todas as quartas-feiras faríamos uma reunião no porão da escola.
E concordamos em criar um código para poder falar do clube sem que ninguém percebesse.
Estávamos conversando pelo WhatsApp e combinamos de nos reunir sábado na antiga casa da minha tia, pois ela não ia mais lá. Decidimos falar para nossos pais que iríamos à casa da Nanda porque, como os pais dela trabalham de noite, ninguém saberia se estávamos lá ou não.
Sábado finalmente chegou, estávamos todos ansiosos para nossa primeira reunião. Com vidros quebrados, quadros antigos e portas rangendo, o lugar era perfeito, aquela casa parecia ter saído direto de um filme de terror. Usamos o notebook para ver três filmes de terror: Sexta-feira 13, Invocação do mal 2 e O exorcista; contamos lendas urbanas como loira do banheiro e Kushisake Onna, etc.
Estávamos nos divertindo muito até que tive a “brilhante ideia” de fazer o jogo do copo. Sim, eu sei que sou problemática.
Montamos o jogo, acendemos as velas e começamos a jogar…
— Tem alguém aqui? — Nanda perguntou.
— Sim — respondeu depois de alguns minutos.
— Qual seu nome? — perguntei.
— Abyzou — respondeu.
— Você é do bem ou do mal? — perguntou Leo.
— Mal — respondeu.
— Por que você foi fazer essa pergunta? — cochichei.
Leo deu de ombros, e continuamos o jogo.
— Você é um demônio? — perguntou Everton.
Nenhuma resposta.
— Sério que ele não vai responder? — falou Everton.
— Responder o quê? – perguntou Leo, que de novo estava no mundo da lua.
Nesse momento o copo explodiu, um espelho, que estava atrás de nós, caiu no chão e se quebrou, e a porta da casa se fechou. Leo tentou abrir, mas não conseguiu. Nanda e eu ficamos tremendo de medo.
— Poxa, May, que ideia boa você teve, hein! fazer o jogo do copo, não tinha nada pior? – Nanda falou, sarcástica.
— A ideia foi minha, mas todos vocês concordaram! — me defendi.
Então Everton disse:
— Vocês são muito medrosos, eu não estou com med...
Enquanto ele falava, passou uma barata voando na frente dele, ele deu um pulo e acabou caindo no chão, nesse momento, a porta se destrancou.
Então nós entendemos, era um espírito que se alimentava do medo. Quando ele não respondeu à pergunta, todos ficamos preocupados e assustados e ele ficou mais forte, porém, quando a barata passou voando e nós rimos, ele ficou fraco novamente.
Após descobrirmos isso, nós expulsamos o espírito facilmente por não estarmos com medo, e assim tudo foi resolvido.
Foi assim que o clube do medo foi criado, e essa foi a nossa primeira de muitas aventuras assustadoras e engraçadas...
Porão da escola
Certo dia na escola, as 2 primeiras aulas, que eram de matemática, foram vagas. Sempre que tínhamos aula vaga, nós íamos para o pátio, mas estávamos entediados e o pátio não tinha nada de interessante, a única coisa que se podia fazer lá era ficar andando. Então, sem que a funcionária percebesse, mandei uma mensagem no grupo do WhatsApp do clube do medo perguntando o que eles achavam de passar as aulas vagas e o intervalo no porão e todos adoraram a ideia, foi aí que tudo começou...
Esperamos todos os alunos saírem da sala, e, sem que ninguém nos visse, descemos para o porão.
Ao chegar lá, entramos em uma sala antiga, fechamos a porta, e começamos a contar algumas histórias de terror que conhecíamos sobre a escola.
A escola foi criada em 1941, era muito antiga, por tanto, histórias de terror era o que não faltava. Essas são as que conhecemos:
Diziam que uma menina que estudava lá gostava de um garoto, e viu esse garoto beijando outra garota. Ela ficou com muita raiva, quebrou a janela, pegou um caco de vidro e começou a tentar cortar a garota, mas ela caiu no chão, em cima da mão em que estava o caco de vidro, o caco perfurou seu peito e ela morreu. Dizem que o espírito da menina continua no terceiro andar da escola e muitas pessoas que estudam de noite já a viram andando pelas salas.
Tem ainda as pessoas que juram ver dois meninos subindo as escadas durante o intervalo.
Mas a história mais assustadora é a da porta secreta. Na escola existem algumas portas que estão sempre trancadas, ninguém sabe oque tem dentro delas. De acordo com a funcionária, eram antigas salas onde ficavam os materiais de limpeza, mas a maioria dos alunos jura que viram a diretora esconder cadáveres lá dentro.
Essa última história foi o Everton quem contou, então Nanda propôs um desafio, que nós descobríssemos oque havia atrás de uma das portas. Nós nos dividimos em 2 grupos, Leo e eu, e Nanda e Everton. O grupo que descobrisse algo primeiro escolheria qual filme assistiríamos no próximo encontro do grupo.
Eu e Leo resolvemos ir para o terceiro andar, onde havia uma porta trancada do lado do banheiro, e a outra dupla foi para o segundo andar, que tinha uma porta trancada perto da escada.
Já era hora do intervalo quando Leo e eu subimos para o terceiro andar, estávamos próximos à porta trancada, que ficava do lado do banheiro, quando ouvimos passos vindos da escada. Eu entrei no banheiro feminino para me esconder e Leo, bom não sei onde ele se escondeu.
Só sei que fiquei olhando pelo espelho do banheiro, esperando as pessoas que estavam subindo passarem, quando ouvi dois meninos conversando, mas a voz deles, de repente, sumiu. Esperei mais alguns minutos, sai do banheiro e dei de cara com o Leo, que parecia assustado:
— Vo... Você não vai acreditar! Dois meninos subiram aqui e quando me viram eles... Eles sumiram!
Era difícil acreditar, mas já tínhamos visto tanta coisa que isso parecia até normal.
Bom, como nós já estávamos lá, era melhor tentar abrir a porta. Tentamos técnicas de filmes como cartão de crédito e clips para abrir a porta, mas não funcionaram. Até que Leo, com toda sua força, deu um chute na porta e ela se abriu. Não tinha nada lá dentro, apenas algumas prateleiras e muito pó.
Tiramos uma foto para provar que tínhamos aberto a porta e, nesse momento, ouvimos a voz da diretora e corremos até o porão como se não houvesse amanhã.
Ao chegarmos no porão, encontramos Nanda e Everton, e eles contaram a seguinte história:
– Nós abrimos a porta sem dificuldade, só um puxão, acho que se esqueceram de trancá-la. Assim que a porta foi aberta, um gato pulou lá de dentro, estava muito magro, devia estar preso lá há muito tempo. Quando abrimos a porta, o gato pulou, o Everton levou um susto e deu um grito, aí a funcionária veio em nossa direção e corremos para cá – disse Nanda
– Ei, eu não gritei! – protestou Everton.
Então eu contei o que tinha acontecido com Leo e eu e decidimos que na próxima reunião todos teriam direito de escolher um filme.
A casa abandonada
Estávamos conversando pelo grupo do WhatsApp, tentando decidir onde fazer a próxima reunião. Mas ninguém tinha ideia de um lugar assombrado ou pelo menos antigo na nossa cidade a não ser é claro a escola. Porém, da última vez que tentamos desvendar uma história da escola, quase levamos suspensão. Foi então que me lembrei que em frente à rua que eu morava tinha uma casa que foi abandonada no meio da construção, isso já faz muito tempo, quando me mudei para esse bairro a casa já estava abandonada.
Todos concordaram em se reunir lá no próximo sábado.
Sábado chegou, todos nós estávamos em minha casa e eu levei meus amigos para ver a casa abandonada. Ela era velha, os tijolos estavam apodrecidos e a casa não tinha nem portão.
Resolvemos entrar para contar as histórias de terror que havíamos pesquisado. Nanda começou a contar a lenda de um cachorro, só que, no meio da história, ouvimos um barulho em frente à casa, por tanto, resolvemos fazer silêncio até que seja lá quem estivesse perto da casa, fosse embora.
Alguns minutos depois Nanda recomeçou a história, mas eu não estava prestando atenção, aliás, acho que ninguém estava, pois escutamos alguém cochichando do lado de fora e o cheiro de enxofre estava muito forte. Nanda de repente interrompeu a narrativa para falar que estava sentindo calafrios e queria ir embora, e ela não era a única, eu também não aguentava mais ficar ali, mas Everton, que queria dar uma de “machão”, disse que não sentia nada, por tanto decidimos usar a democracia:
— Léo, o que você acha, devemos sair? — perguntei.
— Sair de onde? — como sempre, ele não tinha prestado atenção em nada.
Eu ouvi alguma coisa rachar e decidi ir embora dali, não me importando se os outros viriam junto comigo ou não. Nanda me seguiu e Léo, sem saber o que estava acontecendo, fez o mesmo.
Estávamos próximos à rua quando ouvimos um barulho muito grande, olhamos para trás e a casa tinha desmoronado. Corremos para procurar Everton, que acreditávamos ainda estar lá dentro, mas, por sorte, ele ouviu as paredes rachando e saiu segundos antes da casa desabar.
Depois desse susto, decidimos encerrar a noite e cada um foi para sua casa.
Ficamos alguns dias sem falar sobre o clube, pois não sabíamos se era uma boa ideia continuar tendo encontros em lugares assombrados. Até que um dia, na aula, Léo falou:
— Eu já sei o que aconteceu! Fui pesquisar um pouco com alguns vizinhos mais velhos da May e descobri que depois que a casa foi abandonada há 50 anos, quando seus vizinhos ainda eram crianças, eles encontraram um tabuleiro Ouija e queriam jogar, mas é claro que seus pais não iriam deixar, então eles decidiram ir jogar na casa abandonada. Durante o jogo eles escutaram vozes, e alguém que estava no jogo pediu para o espírito se manifestar. Nesse momento o espírito entrou no corpo de uma menina e tentou matar o menino que estava ao seu lado estrangulando-o, eles conseguiram salvar o menino e tentaram expulsar o espírito, entretanto, não conseguiram e a menina que estava possuída acabou morrendo.
Todos nós estávamos tão chocados com a história, que não sabíamos o que falar.
— O tabuleiro continua na casa, enterrado ou escondido em algum lugar. Provavelmente o espírito do jogo e o espírito da menina estão presos naquela casa, pois o jogo não foi encerrado — concluiu Léo.
— tabuleiro Ouija? Você quer dizer este aqui? — falou Nanda, enquanto mostrava um jogo velho e cheio de terra que estava em sua mochila.
Então ela explicou que, quando corremos para fora da casa, ela tropeçou em algo, viu que era o tabuleiro e resolveu guardar para jogarmos depois.
Porém, como o tabuleiro tinha um espírito preso, decidimos queimá-lo. Depois voltamos à casa destruída e fizemos um ritual que teoricamente liberta espíritos, mas não tem como saber se funcionou, apenas torcemos para ter dado certo.
O laboratório
Estávamos na frente da escola. Já eram 10 da noite, Léo estava tentando abrir o portão enquanto nós estávamos de guarda, para avisá-lo caso alguém aparecesse.
7 horas antes, estávamos no pátio da escola durante o intervalo, quando Nanda, que havia entrado naquele ano na escola, apontou para um “prédio” abandonado próximo ao muro da escola e perguntou o que era.
— Ali era o laboratório, mas foi fechado há 2 anos — respondi.
— Por que fecharam? — Nanda perguntou.
Então Everton resolveu contar a história:
— Há mais ou menos 10 anos, uma garota foi levada para lá por 2 garotos da escola, estuprada, espancada e acabou morrendo ali. A diretora ficou com medo da reação dos pais e mandou os professores pararem aos poucos de usar o laboratório. Porém, a história não parou aí, o mais estranho é que, após uns 5 ou 6 anos, tudo foi esquecido e voltaram a usar o laboratório, mas todas às vezes que os professores iam lá com alunos, eles saíam correndo assustados, dizendo que tinham visto vultos, ouvindo gritos ou som de cadeiras se arrastando. A repercussão foi tão grande que a diretora mandou fechar de vez o laboratório.
— Nossa, e por que não vamos lá na próxima reunião do clube? — disse Nanda.
Todos se entreolharam e ela ficou curiosa:
— O que foi? — Nanda questionou.
Eu expliquei:
— Acontece que, bem... Nós já fomos lá algumas vezes. Na quinta série a minha professora de ciências levou minha turma lá – na época o pessoal do clube não era da minha sala – nós fomos ao segundo andar do laboratório, tivemos uma aula e quando descemos para ir para a classe, ouvimos alguém andando no andar de cima. A professora chamou e até deu bronca no aluno que estava lá em cima, mesmo assim ele não desceu e ela foi lá procurá-lo enquanto nós ficamos e contamos quantos alunos tinham ali embaixo para tentar descobrir quem estava lá em cima. A professora não achou ninguém no segundo andar e foi até a escada perguntar se, enquanto ela estava lá, o aluno havia descido, respondemos que não, e uma amiga minha foi falar com a professora: nós contamos 5 vezes... Nã... Não está faltando ninguém!
Como se não bastasse, eu contei essa história para esses dois e eles não acreditaram e resolveram ir lá de noite com uma câmera. Quando estavam no segundo andar, Léo viu um vulto passar correndo atrás do Everton, ele gritou para o amigo correr, e, nessa hora, a janela estourou do nada. Temos tudo gravado no notebook.
— Uau! – Nanda respondeu boquiaberta. — Ainda, sim, quero ir lá! Qual é, depois de tudo que passamos, uma janela estourando assusta vocês?
Acabamos decidindo ir ao laboratório naquela noite…
Léo conseguiu abrir o portão e nós entramos no laboratório. Como era de se esperar de um prédio abandonado há 2 anos, o laboratório estava empoeirado e cheio de teia de aranha. Nanda foi até o segundo andar, seguimos ela, voltamos e Everton disse:
— Pronto, você já viu o laboratório, agora que tal irmos embora?
Todos pareciam estar de acordo com a ideia de Everton, menos Nanda. Enquanto discutíamos, ouvimos cadeiras se arrastando no andar de cima, e, como sabemos, quando alguém sobe as escadas para descobrir o que causou o barulho em um filme de terror, ela morre, então eu, Everton e Léo corremos para fora. Porém, Nanda, que pelo visto não prestou muita atenção nos filmes, correu para a escada e foi para o segundo andar para ver o que causou o barulho.
Nem deu tempo de chamá-la, assim que ela subiu a escada ouvimos os vidros das janelas se quebrando, a porta do segundo andar se trancou e Nanda começou a gritar. Léo e Everton tentavam arrombar a porta, e eu pensei: se eles, esses homens desse tamanho não conseguem arrombar a porta, imagine eu que não consigo nem carregar os livros da escola. Foi então que vi uma árvore alta, que dava bem na janela quebrada do segundo andar e comecei a escalar.
Quando cheguei lá, Nanda estava rodeada por vultos e gritando de medo. Joguei uma pedra nela, ela me viu, se jogou pela janela, agarrou a árvore e começamos a descer. Os meninos viram que tínhamos conseguido escapar e correram para a rua. Nanda e eu chegamos ao chão e corremos o mais rápido possível para longe dali.
Trem fantasma
Entramos no parque de diversões, o primeiro brinquedo que vimos foi o trem fantasma e resolvemos ir nele. Embora Léo dissesse que, depois de tudo que passamos, aquele brinquedo não tinha mais graça. O funcionário disse que o brinquedo estava com problema, à porta do fundo não estava abrindo. Se quiséssemos, ele até ligaria o brinquedo, mas quando chegasse ao fim teríamos que sair do carrinho e ir a pé até a porta da frente. Nós concordamos.
Lá dentro vimos uma bruxa mexendo no caldeirão, aranhas, um macaco que apareceu em cima de nossas cabeças com um machado… Enfim, coisas típicas desse tipo de brinquedo, nada de mais.
Chegamos ao fim do brinquedo, já entediados, descemos do carrinho e voltamos a pé. Porém, ao chegar do outro lado do brinquedo, vimos que a porta da frente estava trancada. Ouvimos passos e olhamos para trás, havia uma bruxa, um macaco com um machado e aranhas gigantes vindo em nossa direção. Eles haviam ganhado vida!
Para momentos de perseguição temos um plano muito eficaz, eu gritei:
— Separar!
E cada um foi para um lado.
Eu atravessei 1,2,3 portas, virei para todos os lados e já não sabia mais onde estava. Só sabia que tinha um macaco com um machado bem atrás de mim, e o pior, ele estava usando o machado para abrir as portas que eu fechava, ou seja, era de verdade!
Não tinha mais portas... Estava encurralada quando vi um fio de luz vindo de uma fenda na parede que era feita de madeira e parecia bem frágil. Comecei a arrancar as madeiras até fazer um buraco grande o suficiente para eu passar e sair do brinquedo.
Mas meus amigos ainda estavam lá dentro, eu estava andando em volta do brinquedo quando ouvi, do outro lado da parede, a Nanda gritar. Bati na parede de madeira e ela percebeu que era eu porque tínhamos um código, se eu batesse na madeira 5 vezes era para avisar que estava ali, ela respondeu com 3 batidas que significa “ouvi”, eu bati mais duas vezes para dizer “me siga” e fui batendo na madeira e andando até o buraco que eu tinha feito. Ela achou e passou por ele.
Everton atravessou correndo a porta de trás do brinquedo, que o funcionário disse não estar abrindo. Léo também saiu por ali 5 minutos depois, perguntando o que tinha acontecido e por que tínhamos nos separado. Pela milésima vez ele não estava prestando atenção em nada.
Enquanto explicávamos para o Léo o que tinha acontecido, o funcionário e perguntou:
— Gostaram do brinquedo? É uma inovação, os “monstros” são programados para andar.
Ou seja, tudo aquilo era parte do brinquedo, não era verdade. E para quem achava que o trem fantasma não tinha mais graça, agora não pode falar nada.
A festa de Halloween
Era dia 23\10, o Halloween estava chegando e nós queríamos fazer uma festa.
— É uma pena que aqui quase ninguém comemora essa data, queria tanto sair pedindo doces — lamentou Nanda.
— É verdade, mas ainda podemos fazer uma festa fantasia — disse Leo.
— Sim, mas falta pouco para o Halloween, temos que nos apressar. — falei.
Só havia um problema, onde iríamos fazer a festa?
A Beatriz, uma amiga minha que também queria fazer a festa, teve uma ótima ideia:
— No meu bairro tem um salão de festas que não é mais usado, e os vizinhos são legais, talvez possamos até pedir doces!
Nem preciso dizer que todos adoraram a ideia dela, ficamos de ir ver o salão no dia seguinte.
Ok, eu sei que não somos mais tão novos assim, mas nunca tínhamos pedido doces, então resolvemos levar umas crianças conosco e dizer que estávamos apenas acompanhando elas.
Falamos com nossos pais sobre a festa e eles concordaram em nos ajudar a organizar a festa e ver se era possível usar o salão abandonado.
Ao chegar lá vimos que o lugar era enorme, com dois andares. O prédio era muito antigo, perfeito para a festa.
Falamos com os vizinhos e eles concordaram em dar doces “para nossos sobrinhos” no dia da festa.
Na vizinhança tinha um garoto negro, alto e de olhos azuis, chamado Fábio. Ele ficou muito empolgado com a ideia e contou para sua mãe, que nos ajudou a encontrar bastante gente para ir à festa.
Compramos abóboras e as transformamos em lanternas assustadoras. Pegamos papel EVA que havia sobrado de um trabalho e recortamos abóboras, bruxas, vassouras, corujas, gatos pretos, caldeirão, caixão e uma faixa bem grande escrito: “feliz dia das bruxas”.
Colocamos toalhas pretas e laranjas para enfeitar as mesas e fizemos doces com cara de monstros. Separamos trilhas sonoras de filmes de terror, e filmes para vermos no final da festa como Jason X e Colinas de sangue, que eram meus preferidos.
Convidamos alguns amigos para a festa e começamos a pensar nas fantasias. Eu iria de Ester, do filme A órfã, Nanda iria de vampira, Leo de fantasma, Matheus, um amigo do Fábio, de demônio, Beatriz de zumbi e Fábio do boneco de jogos mortais. Everton disse que iria se fantasiar de panda, ninguém entendeu o porquê, mas tudo bem.
O tempo passou voando enquanto organizamos a festa. Já era dia 31 e já estava tudo pronto, a festa iria começar em uma hora.
Thainá foi a primeira convidada a chegar e ela estava vestida de bruxa. Outros convidados foram chegando, tinha muita gente que não conhecíamos. Nos perguntamos quem eram eles e como ficaram sabendo da festa, até que lembramos que a mãe do Fábio havia convidado “algumas” pessoas.
A festa começou e tinha muita gente fantasiada de zumbis, heróis, vilões, dragões, animais, personagens de Harry Potter...
Muita gente foi de caveira, Jason e, principalmente, fantasmas.
A festa estava ótima, música legal, a comida estava uma delícia e os convidados se divertindo. Até que às 21 horas decidimos sair para pedir doces.
Os convidados se separaram para ir pedir doces. Nós do clube fomos juntos e passamos por um cemitério, onde um gato preto cruzou nosso caminho e obviamente paramos para fazer carinho nele. Mais a frente, não sei dizer direito o que era, alguém cheio de machucados parecia estar comendo um cachorro. É um zumbi? Me perguntei. Ele nos viu, e, por via das dúvidas, corremos o mais rápido possível. Não prestamos atenção no caminho e acabamos tropeçando em uma vassoura que saiu voando. Aquele fato inexplicável me traz dúvidas até hoje. Será que as bebidas estavam batizadas? Estávamos delirando? Era uma pegadinha? Não faço ideia.
A vassoura nos levou para um lugar desconhecido, onde aparentemente estava havendo uma festa de bruxas organizada pelo diabo.
O lugar era antigo, assustador e cheio de aranhas, íamos sair antes que alguém nos visse, mas algo nos chamou atenção, encontramos uma menina que também foi parar lá sem querer. As bruxas a viram e prenderam-na em um espelho.
Nós entramos escondidos e em silêncio, pegamos uma varinha, falamos as palavras que a bruxa havia usado para prendê-la, e conseguimos libertá-la.
Em seguida, saímos correndo, porém, alguém apareceu na nossa frente, meu coração parou por um segundo, pois achei que a bruxa tinha nos visto e iria nos prender no espelho também.
Por sorte, era apenas a Thainá, que havia se perdido. Pegamos a vassoura e saímos de lá. A vassoura começou a rodar e quase caímos, foi preciso muito cuidado até chegarmos à nossa cidade.
A vassoura voava muito rápido e estávamos a uns 3 metros do chão quando vimos nossa cidade no horizonte. Não conseguimos fazê-la parar, eu gritei todas as palavras que vi em Harry Potter, Expecto Patrono, Leviôsa, Aparato Repillio, Ascendio…
E meus amigos usaram todas as palavras que podiam imaginar, como: Abra Cadabra, Alakasam, Ra Tim Bum, Plunt Plat Zum... Mas nenhuma funcionou, tivemos que pular e caímos em um cemitério.
No cemitério tudo ficou pior, agora não tinha só um zumbi, eram vários e eles nos ouviram caindo, se levantaram e vieram em nossa direção. Tentamos correr o mais rápido possível, apesar de estarmos cheio de arranhões e alguns até com o tornozelo torcido por causa da queda. Fomos até o portão, porém estava trancado.
Ficamos desesperados sem saber o que fazer, então me lembrei que em alguns filmes os personagens abrem portões e portas com grampos de cabelo. Nanda me deu seu grampo e falou para eu tentar destrancar porque ela estava tremendo. Isso não é fácil como fazem parecer nos filmes, mas eu consegui depois de algumas tentativas.
Todos estavam machucados após cair da vassoura, não sei quem estava correndo mais devagar, nós ou os zumbis. Por sorte, conseguimos fugir.
— O que foi isso? Estamos ficando malucos? — perguntou Everton.
— Não faço ideia, mas não tem uma lenda que diz que o cemitério é amaldiçoado? — comentou Nanda.
— Tem, só que é apenas uma lenda. Moro aqui desde que nasci e nunca vi nada parecido — respondi. — E mesmo que fosse verdade, isso ainda não explicaria a festa das bruxas.
— Ué, só porque são bruxas elas não podem dar uma festa? Tecnicamente o Halloween é o dia delas, não? — falou Léo.
Quando olhamos no relógio, vimos que já eram 22 horas, decidimos fingir que nada havia acontecido e fomos pedir doces.
Então, às dez e meia e nós voltamos ao salão com muitos doces.
Ficamos assistindo filmes até as 3 da madrugada, quando todos já estavam cansados e decidiram ir para casa. Nós do clube e mais três pessoas, que estavam fantasiadas de chapeuzinho vermelho, malévola e Samara de O chamado, decidimos dormir no salão mesmo, porque nossa casa estava muito longe e não tinha quem nos buscar. Trancamos o salão, fizemos guerra de travesseiros e comemos muitos doces. E como se não bastassem as aventuras que tivemos até aquele momento, decidimos fazer o jogo do copo.
— Tem alguém aqui? — perguntei.
Resposta: “sim”.
Depois da resposta, a menina vestida de chapeuzinho vermelho tirou a mão imediatamente do copo, morrendo de medo.
— Qual seu nome? — Nanda perguntou.
“Isabella”.
Novamente Léo não estava prestando atenção e acabou tirando a mão do copo para pegar seu celular.
— Qual a sua idade? — Everton falou.
“5”.
— Como você morreu? — perguntei.
“Acidente de carro”.
— Há quanto tempo você morreu? — questionei, mas não houve resposta.
Fizemos outras perguntas, mas parecia que ela havia ido embora.
Como todos sabem, para sair do jogo é preciso pedir ao espírito, mas ela não respondeu, então guardamos o jogo e fomos dormir.
Eu acordei às 5 da manhã para beber água, e vi a figura de uma criança vestida de branco e segurando uma boneca refletida no espelho.
A lâmpada então estourou, tudo ficou escuro. Alguns segundos depois, todos começaram a gritar e o espelho se quebrou. Nos guiamos pela voz uns dos outros e ficamos juntos, sem saber o que fazer.
Até que, dez minutos depois, a luz voltou e a menina havia sumido. Estávamos todos morrendo de medo, me arrepio até hoje quando me lembro dessa história.
Quando olhamos em volta nos demos conta que a menina vestida de chapeuzinho vermelho havia sumido, a procuramos por todo o salão, e assim que o sol nasceu fomos procurá-la pelo bairro, mas nunca mais a vimos...
Enquanto a procurávamos, Fábio começou a se contorcer e falar coisas estranhas do tipo “vou te matar”. Não sabíamos o que fazer.
— Alguém aí sabe fazer um exorcismo? — perguntei.
Ninguém sabia, mas Nanda teve uma ideia, ela pegou seu celular e ligou uma gravação. Era a voz dos winchesters, de Supernatural, fazendo um exorcismo. Imediatamente Fábio pegou o celular e o jogou no chão.
Quando ele jogou o celular, fechei os olhos com medo de ser atingida, e, assim que os abri, Fábio estava segurando um caco de vidro e vindo em minha direção. Por sorte o vi a tempo e consegui impedi-lo, segurei sua mão e ele não conseguiu me cortar, mas me derrubou no chão.
Enquanto lutávamos no chão e eu gritava por socorro, Leo começou a recitar o exorcismo da série Supernatural. Aquela foi a primeira vez que ele ouviu o exorcismo, por sorte, sua memória era muito boa quando ele decidia prestar atenção.
Todos estavam tentando tirar o Fábio de perto de mim, Everton conseguiu fazê-lo largar o caco de vidro, mas agora ele estava tentando me estrangular.
Após alguns minutos que pareceram horas, o exorcismo finalmente terminou e Fábio voltou ao normal. Aquele foi o dia mais assustador da minha vida, e nós decidimos que era melhor pegar mais leve, parar de fazer invocações e ficar apenas com os filmes de terror e lendas urbanas.
Dias depois, descobrimos que antes de ser um salão, aquele lugar era um hospital psiquiátrico onde os pacientes eram torturados. Quando proibiram os métodos de “tratamento” que eles utilizavam, uma empresa comprou o lugar e transformou em um salão, entretanto, muitas coisas estranhas aconteciam lá e as pessoas não queriam mais alugar, então decidiram fechar.
Epílogo
Anos depois, quando fizemos o jogo do compasso, a menina que aquele dia estava vestida de chapeuzinho vermelho veio falar com a gente pedindo ajuda, pois quando o espírito que invocamos entrou em nosso mundo, a menina foi sugada para o mundo dos espíritos…
Mas essa história fica para o próximo livro.
Nós colocamos sal dentro de todas as paredes do salão antes de irmos embora, para que mais ninguém corresse risco de morte ali.
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