O que é certo?
por Lud Fernandes
Samara matou o ex namorado.
Gabriel assaltou o mercado.
Vivian pulou da ponte.
Eduardo largou seu emprego para vender seu corpo nas ruas.
Janaína sequestrou e esfaqueou uma adolescente.
Quem deles estava certo? no senso comum, ninguém.
Mas Samara foi estuprada pelo ex, sem prova nenhuma, a polícia arquivou o caso. Ao vê-lo na rua algum tempo depois, teve um surto, e o matou com dezenas de facadas.
Gabriel e seu filho estavam passando fome, ele perdeu o emprego há alguns meses e o dinheiro acabou. Vivendo em uma crise, sem expectativa de conseguir um novo emprego, roubou comida para poder alimentar seu menino.
Vivian tinha uma doença dolorosa e incurável, já não aguentava mais lutar.
Eduardo foi expulso de casa aos 16, parou de estudar para trabalhar e era humilhado em um emprego que mal pagava suas contas.
A mãe de Janaína estava morrendo de um câncer no pulmão, por culpa de seu chefe, que a colocou para trabalhar por anos dentro de uma caldeira cheia de fumaça tóxica. Ele não fez nada para ajudá-la, então Janaina arrancou o pulmão com as próprias mãos para salvar sua mãe.
E agora? Qual deles está certo? Legalmente, nenhum. Mas, a depender do seu senso de ética, alguns podem não estar tão errados assim.
Então, como definir o que é certo ou errado? podemos levar apenas as leis em consideração? Ou o motivo é mais importante que o ato?
Entre o Ato e o Motivo: uma reflexão sobre a moral e a justiça
No tribunal do senso comum, é fácil apontar culpados. Quem mata, rouba, abandona a vida ou infringe normas é imediatamente rotulado como errado. A sociedade gosta de soluções simples para dilemas complexos. Mas a filosofia nos ensina a desconfiar das respostas prontas. E, por isso, diante de histórias como a de Samara, Gabriel, Vivian, Eduardo e Janaína, a pergunta que surge não é apenas “o que foi feito?”, mas “por que foi feito?”
Tomemos o exemplo de Samara, que matou o ex-namorado após sofrer violência e ver seu caso arquivado. Legalmente, ela é uma criminosa. Mas, eticamente, será que é possível ignorar o abandono do Estado e o trauma psicológico que a motivou? O mesmo vale para Gabriel, que roubou comida para alimentar o filho, ou para Vivian, que decidiu encerrar sua vida após anos de dor incurável. A lei os julga friamente. Mas a filosofia nos obriga a olhar mais fundo.
Immanuel Kant, defensor de uma moral baseada em princípios universais, afirmaria que nenhuma justificativa torna um ato imoral aceitável. Para ele, roubar é errado, mesmo que seja para alimentar um filho. Já Maquiavel talvez enxergasse nas ações dessas pessoas a consequência de um sistema falho — onde a moral deve ceder à necessidade. Nietzsche chamaria de hipocrisia moral a condenação de quem luta para sobreviver em um mundo moldado pela crueldade e pelo poder.
O texto nos conduz, então, a um ponto crucial: a justiça deve ser aplicada com empatia ou com imparcialidade? Podemos ignorar os contextos sociais, econômicos e psicológicos que empurram alguém ao limite?
Na vida real, a resposta nunca é simples. A ética, diferente da lei, é feita de zonas cinzentas. Ela não é cega, como a justiça tenta ser — ela enxerga as nuances. O que seu texto revela, com brutal honestidade, é que julgar é fácil quando se tem conforto; compreender exige coragem.
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