A Banalidade do Mal: quando o mal veste crachá e bate ponto
Por Lud Fernandes
Trabalhei desenvolvendo sistemas bancários para um site de apostas. Detalhe: sou contra apostas. Mas era o que pagava meu salário. Fiz o trabalho, cumpri o prazo, entreguei a tarefa. Tudo certinho, como manda o figurino. Só depois me dei conta: eu participei da engrenagem de algo que considero imoral. Não fui forçada. Só obedeci. Afinal, era só “meu trabalho”.
Hannah Arendt chamou isso de banalidade do mal: quando o mal não tem cara de vilão de filme, mas de funcionário eficiente, técnico obediente, cidadão que "só cumpre ordens". Os soldados nazistas disseram isso: estavam só cumprindo ordens. Mas estavam mesmo? E os que desertaram, os que fugiram, os que resistiram? Tinham escolha.
A questão é: até onde vai a nossa responsabilidade? Obedecer uma ordem absurda nos isenta do absurdo que cometemos? Se aceitarmos isso, estamos dizendo que quem desobedece, quem se rebela contra injustiças, está errado?
No fim, quase sempre há uma escolha. Seguir ordens desumanas é, no mínimo, uma escolha covarde. Quem faz o mal, mesmo uniformizado, mesmo com crachá ou contrato assinado, está escolhendo o mal. Só que com menos coragem e mais desculpas.
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