Saturnália - A cidade do natal
Aviso:
Esse livro pode gerar gatilhos de depressão/pensamentos suicidas.
Prólogo
Neste conto acompanharemos a viagem de vários personagens a Saturnália, a cidade do natal.
Cada grupo ficará em uma cabana de hotel, e a história será organizada com base no número de cada cabana. Para que o texto fique mais organizado, haverá uma imagem para separar as histórias.
No decorrer do livro, são citadas algumas músicas de natal, fique a vontade, caso queira, para ouvi-las enquanto lê. Aumentando assim sua imersão na história. Deixarei aqui o link de uma playlist com todas as músicas: https://open.spotify.com/playlist/0uYiqGP6yUfldMCc8Z7VQZ?si=e9326763e32c4410
Para mim, o natal é a época mais mágica do ano, e Saturnália é, com certeza, um lugar onde a magia reina. Espero conseguir passar para os leitores o quão incrível e apaixonante é esse lugar.
A cidade do natal é a mais delicada, graciosa e encantadora que já tive o prazer de conhecer, e gostaria que os leitores tivessem a mesma experiência maravilhosa que tive.
Por último, mas não menos importante, nunca deixem a magia do natal acabar. Mantenham sempre essa chama acesa em seus corações e as compartilhem sempre que possível.
Boa leitura e feliz natal!
— Ganhamos! Ganhamos! — Carol gritava de seu quarto, muito empolgada.
— O que foi, querida? — sua mãe perguntou enquanto subia as escadas.
Ao chegar no quarto de Carol, seus pais viram que ela estava com uma página aberta no computador que continha a seguinte mensagem: “Meus parabéns, você ganhou uma viagem para Saturnália!”.
— Filha, o que é isso? — falou Flávia, mãe de Carol.
— Mamãe, eu vi um sorteio na internet, me inscrevi e nós ganhamos! Vamos passar o natal na “cidade do natal” — respondeu a menina, com um sorriso enorme no rosto.
Imediatamente seus pais foram para o computador, com medo de que se tratasse de um vírus ou um golpe.
Após alguns minutos pesquisando, eles descobriram que a cidade realmente existia, uma empresa havia comprado o terreno de uma antiga cidade no interior de São Paulo e criou a “cidade natalina” naquele mesmo ano. E o sorteio também era verdadeiro, fazia parte do marketing da cidade para atrair mais turistas. De acordo com o site, eles haviam ganho a viagem de ida e volta gratuitamente, além de hospedagem, alimentação e acesso a todas as atrações da cidade.
Muito animados, eles chamaram Carlos, o filho mais novo, para contar a novidade.
— Então poderemos comemorar o natal esse ano? — Carlos perguntou, animado.
— Sim, filho, graças a sua irmã! — respondeu o pai, Marcelo.
Todos comemoraram e começaram a se organizar para a viagem. Algumas horas depois, Flávia e Marcelo estavam sozinhos no quarto:
— Isso é um milagre! Nem consigo acreditar — comentou Marcelo
— Sim, as crianças estavam tão tristes de não comemorar o natal esse ano… Elas sempre amaram essa data, dizem ser mágica, esperam por isso o ano todo.Tem sido tão difícil desde que você perdeu o emprego, só o meu salário não está sendo o suficiente para pagar as contas…
— Eu sei, mas vamos nos preocupar com isso quando voltarmos, agora temos uma viagem para fazer!
Carol não foi a única a ganhar o sorteio. À 300 quilômetros dali…
— Filho, vem aqui! Tenho uma novidade para te contar! — gritou Vitória.
Gustavo foi até a mãe, que lhe contou que eles fariam uma viagem no natal.
— Oba! — ele respondeu, animado, porém, logo tirou o sorriso do rosto — Mas o papai não vai deixar, vai?
— Não se preocupe com isso, eu falo com ele — ela falou.
O menino saiu contente da sala, ao mesmo tempo em que seu pai chegou.
— Por que ele está tão animado? — perguntou Vicente.
— Ganhei um sorteio e nós vamos viajar no natal! — Vitória respondeu.
— Para quê? Você sabe o que acho do natal. Nós não vamos a lugar nenhum.
— Eu não me importo com o que você acha, nosso filho sempre quis comemorar o natal e nós vamos. Bom, pelo menos eu vou, se você não quiser ir, que fique aqui sozinho — ela falou, e foi para o quarto.
Alguns dias depois, no dia 17 de dezembro, todos os ganhadores do sorteio pegaram suas passagens e foram de avião até Saturnália.
Ao descerem no aeroporto, havia um ônibus esperando por todos eles. O ônibus tinha lugar para 42 passageiros e estava cheio, principalmente de crianças e adolescentes. Aparentemente muitas pessoas ganharam o tal sorteio.
Após 23 minutos de viagem, o ônibus parou e todos desceram. Assim que saíram do veículo eles notaram uma coisa intrigante, estava nevando! No interior de São Paulo, no meio do verão, estava nevando. Como aquilo era possível?
— Olha, neve! — uma das crianças gritou, e saiu correndo para brincar. Mas voltou logo em seguida, pois estava muito frio e ele estava usando roupas de verão.
Do lado de fora do ônibus, havia um jovem com roupas verdes e capuz, carregando vários casacos.
— Imaginei que vocês não trariam roupas de frio, então eu trouxe algumas — ele falou, entregando as roupas. — Bem-vindos à inauguração da cidade natalina! Espero que gostem de passar o natal aqui, fiquem a vontade e se divirtam! Ah, meu nome é Lucas, Muito prazer! Vou levá-los aos seus quartos.
Todos pegaram casacos e calças e seguiram Lucas. A cidade era linda, havia várias casas de madeira coloridas, com luzes pisca-piscas ao seu redor e janelas com enfeites coloridos. No final da rua era possível ver a praça da cidade, com presentes gigantes, bonecos de neve e renas ao seu redor. Na frente de cada casa havia uma árvore-de-natal, decorada com bolas brilhantes, laços vermelhos e flocos de neve cintilantes. Tudo isso coberto com uma fina camada de neve que deixava tudo ainda mais encantador. A cidade fora enfeitada cuidadosamente, cada detalhe parecia ter sido planejado.
Todos caminharam lentamente até o hotel, apreciando a paisagem impressionante que os rodeava. Era possível ouvir a música “Let it snow! Let it snow! Let it snow!” tocando baixinho, e deixando a atmosfera ainda mais mágica.
Ao chegar lá, viram que o hotel se tratava, na verdade, de várias cabanas de madeira, uma para cada família.
Lucas entregou a chave da cabana 1 para Flávia e sua família. A chave 2 para Vicente, e a 3 para uma moça acompanhada de mais de 30 crianças e adolescentes. Cada um foi para seu respectivo dormitório.
Restaram apenas 2 jovens esperando pela chave de seus quartos.
— Nós só temos a barraca número 4 sobrando, mas ela tem dois quartos e espaço suficiente para vocês duas, espero que não se importem — disse Lucas.
— Sem problemas — respondeu Camila.
— Por mim, tudo bem — falou Violeta.
— Perfeito, então. Voilà! Podem entrar! — ele disse, abrindo a porta da última cabana.
As cabanas eram lindas por fora e muito acolhedoras e aconchegantes por dentro. As paredes tinham tons suaves, de frente com a entrada estava a lareira de pedra com os sofás em volta. Ao lado da lareira havia uma janela grande, de onde se via toda a vila, e uma árvore-de-natal sem enfeites. Atrás da sala havia uma cozinha pequena e charmosa.
Cada uma tinha dois quartos, ambos com uma pequena cômoda e camas grandes com cobertores macios e quentes, convidando os hóspedes a descansar.
Entrando na cabana, os visitantes perceberam o cheiro de biscoitos assados, e viram que em cima do balcão da cozinha havia uma cesta com biscoitos de gengibre, chocolate quente e um bilhete dizendo “Bem-vindos”.
Todos os casebres eram iguais, exceto a 3, que era muito maior do que as outras. Todas as famílias receberam a cesta de boas-vindas e um calendário do mês de dezembro, que era enfeitado com guirlandas e meias de natal nas bordas. Porém, só havia uma semana no calendário, que ia do dia 17 ao dia 25 de dezembro, exatamente o período que eles ficariam ali na cidade.
Cada dia tinha o desenho de uma portinha vermelha com uma guirlanda pendurada, e, na parte de cima, estava escrito: “Abra a porta correspondente ao dia atual, para descobrir quais os eventos do dia! Não vale espiar os dias seguintes”.
Ao abrir a porta do dia 17, eles viram a seguinte lista:
1- Montar a árvore-de-natal;
2- Enviar a cartinha para o papai noel;
3- Comparecer ao restaurante às 8 da noite para participar do banquete e conhecer os vizinhos.
Cabana 4
— Você vem? Temos que comprar os enfeites para a árvore-de-natal! — perguntou Camila.
— Pode ser — respondeu Violeta
Elas foram andando até o final da rua, onde ficava a loja de enfeites, e no caminho, se apresentaram.
— Então, você também ganhou o sorteio, Camila?
— Sim, eu adoro viajar e sempre me inscrevo para todos os sorteios de viagens que encontro. Você já viajou para algum lugar?
— Não. Nunca saí da minha cidade, essa é a primeira vez.
— Ah, que legal! Você vai ver, viajar é muito divertido! Está gostando da cidade?
— Parece legal, eu só não consegui entender como está nevando no meio do verão.
— Nem eu, deve ser algum tipo de neve artificial. Mas não entender é bom, faz parecer magia, não acha?
— Talvez.
A loja de enfeites ficava do outro lado da rua, parecia pequena de fora, tinha uma fachada vermelha e era cheia de janelas enormes. Ao entrar, percebia-se que ela era muito maior do que aparentava. Tinham muitos corredores com todos os tipos imagináveis de enfeites de natal. Desde os mais comuns até os mais estranhos e assustadores.
— Vamos fazer assim, cada uma vai para um lado, escolhe alguns enfeites e a gente se encontra na saída, pode ser? — perguntou Camila.
— Claro.
Gradualmente, todos os ganhadores do sorteio foram entrando e saindo da loja, cada um com seus enfeites que puderam levar de graça, já que o prêmio do sorteio incluía todos os itens comprados no local. As crianças eram as mais empolgadas, elas corriam pela loja toda, quase derrubando os produtos.
Camila e Violeta foram para a cabana levando os enfeites que haviam escolhido e, aos poucos, foram colocando-os na árvore.
Camila parecia muito empolgada, ela colocou a música “Santa Claus Is Comin' to Town” no celular e começou a cantar e dançar enquanto pendurava os enfeites. Violeta ficou olhando ela dançar. Camila dançava muito bem, parecia uma bailarina. E ela tinha uma ótima energia, tinha um sorriso lindo e era possível ver através de seus olhos castanhos que estava muito feliz.
Será que ela é sempre alegre assim? Violeta perguntou-se.
Camila parou de dançar por um segundo, percebendo que Violeta estava olhando-a, e então esticou os braços, chamando-a para dançar com ela. Violeta não parecia muito interessada em dançar, mas Camila a puxou mesmo assim.
Camila andava delicadamente pela sala, enquanto Violeta tentava segui-la, desajeitada. Camila a fez rodopiar, e Violeta quase esbarrou em um vaso de planta. As suas riram e continuaram dançando, descompassadas.
As duas ficaram dançando por alguns minutos, ambas estavam se divertindo, foi a primeira vez que Camila viu Violeta sorrir, e ela ficou encantada com aquele sorriso.
Violeta deveria sorrir mais vezes, para o mundo ver o quão cativante ele era, pensou Camila. Era tão estranho se sentir assim com alguém que acabara de conhecer, mas Camila fazia parecer que elas se conheciam há anos. Era tão fácil se sentir à vontade perto dela…
Cabana 1
Carol e Carlos estavam discutindo sobre qual enfeite ficaria no topo da árvore, Carlos queria uma estrela, mas Flávia insistia em colocar um enfeite de caveira.
— Já chega! — disse Marcelo — hoje colocamos a estrela, amanhã a caveira, e ficamos intercalando até o natal, pode ser?
Todos concordaram e terminaram de montar a árvore, que ficou com enfeites muito diferentes. Do lado que Carol decorou, havia enfeites mais sombrios, e do lado de Carlos, enfeites coloridos e animados.
Cabana 2
Vitória e Gustavo estavam levando os enfeites para a sala de estar, quando viram Vicente indo para fora.
— Papai, você não vai ajudar a montar a árvore?
— Não, vou dar uma volta pela cidade, preciso ver uma coisa.
— O quê?
— Não importa, volto mais tarde.
— Deixa para lá, filho. Seu pai não gosta de montar árvore-de-natal — disse Vitória
— Por favor, pai! Vai ser divertido! — Gustavo pediu enquanto corria atrás de seu pai
— Tudo bem… — ele respondeu, suspirando.
Eles já estavam terminando de enfeitar a árvore, só faltava colocar as luzes. Gustavo começou a desembolar os nós do pisca-pisca, e acabou se enrolando todo.
Quando Vicente olhou para seu filho e o viu enrolado nas luzes de natal, começou a rir.
— Estão vendo? Não precisamos de uma árvore-de-natal, nosso filho já é uma!
Eles riram e ajudaram Gustavo a se soltar.
Cabana 3
12 crianças e 21 adolescentes corriam de um lado para o outro com os enfeites de natal. Enquanto 3 crianças tentavam colocar os enfeites na árvore, os mais novos retiravam todos os enfeites e os escondiam pela casa.
Os adolescentes tentavam encontrar os enfeites escondidos pela cabana. Em todos os lugares que olhavam, encontravam um enfeite. A responsável por eles já estava completamente perdida, e havia desistido de montar a árvore. Quem sabe até o dia 25 eles decidam colaborar e consigam terminar de decorar. Ela pensou.
Apesar da bagunça, era muito bom ver as crianças empolgadas e se divertindo, ela sabia que eles raramente tinham dias assim, e não queria atrapalhar o momento de descontração.
Algumas horas depois, eles finalmente conseguiram terminar. Como todas as crianças ajudaram a escolher os enfeites, a decoração ficou completamente aleatória, como se uma chuva de enfeites natalinos tivesse caído por toda a casa.
Após terminarem, todas as crianças foram escrever suas cartinhas para o papai noel.
Na frente de cada cabana havia uma caixinha de correio, para que todos colocassem suas cartas ali.
As crianças começaram a colocar suas cartinhas na caixa de correio, quando Lucas apareceu com um megafone:
— Atenção, eu fiquei sabendo que as crianças já estão terminando suas cartas, mas e os adultos? Estamos na cidade do natal, todo mundo aqui tem que escrever sua carta!
— Era só o que me faltava — resmungou Vicente, entrando novamente em sua cabana.
— Vamos, amor, não custa nada! Você veio até aqui, por que não participa das brincadeiras? — sua esposa perguntou.
Vanessa, que estava próxima aos dois, ouviu a conversa e se intrometeu antes que pudessem entrar na cabana.
— Qual o seu problema com o natal?
— Isso é da sua conta? Eu nem te conheço!
— Exato, nem me conhece, mas está atrapalhando meu dia e das crianças com seus comentários desnecessários, sem contar que está deixando seu próprio filho infeliz, posso ver daqui, a cara de decepção do menino. Olhe ao seu redor, estamos em um lugar lindo, com tudo de graça, sua família quer se divertir, assim como todos nós. Então por que não para de birra e tenta ser legal? ou pelo menos finja que é.
— Assim como você deveria fingir que é educada e parar de se meter na vida dos outros? — Vicente revirou os olhos como um adolescente emburrado.
— Me desculpe pelo meu marido — falou Vitória.
— Espera aí, você não vai me defender?
— Não, você mereceu tudo o que ouviu, eu mesma já estava para te dar um sermão também. — Vitória se dirigiu a Vanessa — Sinto muito por ele, durante toda a infância os pais dele trabalhavam no natal, e ele nunca ganhava nada, muitas vezes ficava sozinho em casa. E, ao invés de fazer terapia para lidar com isso, ele prefere fazer os outros infelizes também.
Vicente e Vitória entraram em sua cabana e começaram a discutir, até que seu filho, que estava ouvindo tudo do quarto, apareceu e implorou para que parassem.
Quando os ânimos finalmente se acalmaram, eles começaram a escrever as cartinhas.
“Papai Noel,
Eu queria muito que meu pai gostasse do natal.
Assinado: Gustavo”
“Querido Papai Noel,
Eu quero que minha família tenha muita saúde.
Assinado: Vitória”
“Eu quero que meu chefe pare de me encher!
Assinado: Vicente.”
Na caixinha de correio da cabana 1 estavam as seguintes cartas:
“Papai Noel,
Eu quero um PS5.
Assinado: Carlos”.
“Querido Papai Noel,
Esse ano a única coisa que quero é que meu pai consiga um emprego.
Assinado: Carol”
“Papai Noel,
Eu gostaria de ter uma estante com centenas de livros!
Assinado: Flávia”
“Querido papai noel,
Eu gostaria que minha esposa tivesse sua própria loja, como ela sempre sonhou.
Assinado: Marcelo.”
Cabana 4
“Querido papai noel,
Eu preciso muito de uma câmera nova para o meu trabalho, e adoraria viajar muito o ano que vem!
Assinado, Camila”
“Papai Noel,
Eu não sei o que quero, mas sei o que não quero. Eu não quero me matar.
Assinado, Violeta”.
Cabana 3
“Querido papai noel,
Eu quero que essas crianças sejam felizes, saudáveis e se divirtam muito,
Assinado: Vanessa”
Além dessa, havia dezenas de cartas na caixinha da cabana 3, pedindo os mais variados tipos de brinquedos. Junto a um pedido muito doce de um menino de apenas 6 anos:
“Querido papai noel,
Sei que é pedir muito, mas eu gostaria que todos que moram comigo encontrem um lar e pais que os amem muito.
Assinado, Murilo”.
Após escrever sua carta, Murilo e as outras crianças do orfanato saíram para participar do banquete junto a Vanessa, a inspetora do orfanato.
Alguns dias antes, o orfanato de uma cidade próxima recebeu uma ligação, a empresa que criou a cidade Saturnália estava convidando todas as crianças do orfanato para passar o natal lá, gratuitamente. Quando receberam a notícia, elas gritaram de alegria. Foi muito difícil fazer as crianças dormirem naquela noite. Só tinha um problema, algum funcionário do orfanato teria que ir junto, mas, como o orfanato não recebia muita verba, eles só tinham três funcionários, e todos queriam passar o natal com suas famílias. No entanto, Vanessa, que era muito apegada às crianças, ao ver a empolgação delas se ofereceu para ir.
Algumas horas depois, todos estavam se arrumando para o banquete, até Vicente parecia empolgado para sair.
Cabana 4
Violeta estava deitada em sua cama, mexendo no celular.
— Você não vai se arrumar para o banquete? — perguntou Camila, invadindo seu quarto.
— Não quero ir, estou com dor de cabeça
— Tenho remédio na minha mochila, se quiser.
— Não precisa — ela respondeu e voltou a mexer no celular.
Então Camila puxou o lençol em que Violeta estava deitada, derrubando-a no chão.
— Por que fez isso? Tá maluca?
— Sempre fui, agora vá se arrumar, sei que não está com dor de cabeça.
— Tudo bem, já estou indo — ela respondeu, se levantando — você é mais forte do que parece, como conseguiu me derrubar da cama? Faz crossfit, por acaso?
— Não, eu faço escalada — Camila disse, mostrando seus músculos como se fosse uma fisiculturista.
As duas riram e foram se arrumar.
As famílias se reuniram no banquete, onde conheceram os outros ganhadores do sorteio. Eles estavam conversando e falando sobre suas vidas quando Camila teve uma ideia:
— Por que não tiramos uma foto para postar nas redes sociais?
Todos gostaram da sugestão e começaram a tirar as fotos, no entanto, ao tentar postar as fotos, uma mensagem de erro apareceu na tela do celular de Camila, dizendo que ela não tinha conexão com a internet.
Os outros hóspedes tentaram postar as fotos também, mas não conseguiram, o que era estranho, pois a internet estava funcionando perfeitamente e eles conseguiam acessar sites e mandar mensagens.
— Que esquisito! — Violeta comentou.
— A conexão aqui é instável mesmo, mas não se preocupem, quando vocês voltarem da viagem podem postar todas as fotos! — falou Lucas, que apareceu do nada com os pratos na mão — vamos comer?
O salão era iluminado por candelabros dourados e velas tremulantes. A mesa de jantar tinha exatamente o número de lugares necessários para os visitantes, e estava coberta por uma toalha vermelha e branca. Ouvia-se a música “Jingle Bells” vindo das caixas de som nas paredes.
O jantar foi maravilhoso, com pães, carnes e principalmente, sobremesas deliciosas, como torta de frutas, torta de nozes e biscoitos natalinos.
— De onde vocês são? — Vitória perguntou.
Aos poucos, cada um foi falando de onde veio e como ficaram sabendo do sorteio. Todos estavam gostando muito da cidade.
— Como será que eles fazem essa neve artificial parecer tão real? — falou Carol.
— Magia! — Lucas respondeu, sorrindo.
— Seja lá como for, estou impressionado, espero voltar aqui ano que vem! — disse Marcelo.
— Eu também, tudo aqui é tão bem organizado e decorado, cada detalhe é perfeito! — comentou Flávia.
— Não sou muito fã de natal, mas concordo que essa cidade é impressionante — falou Vicente.
Eles seguiram conversando e comentando suas impressões sobre o lugar, quando Camila percebeu que Violeta estava sentada no canto do salão, sozinha, mexendo em seu celular.
— Não quer participar da conversa? — Camila perguntou.
— Não gosto de falar com tanta gente.
— Então converse comigo, o que está achando de passar o natal aqui?
E as duas ficaram ali, conversando, até o fim do jantar.
Todos estavam distraídos conversando, quando Pedro, um garoto de 5 anos que morava no orfanato, percebeu que o lustre do teto parecia muito com um balanço. Ele comentou isso com as outras crianças, e eles começaram a pular para tentar subir no lustre.
As crianças não conseguiram alcançar o lustre, então começaram a subir umas em cima das outras. Até que todos caíram no chão, fazendo um barulho muito alto. Por sorte, o lustre não caiu junto.
— Crianças! — gritou Vanessa, repreendendo-os, e logo depois foi verificar se todos estavam bem.
Ao perceber que todos estavam bem, Vanessa foi conversar com Lucas.
— Eu sinto muito. Eles não costumam se comportar assim, mas estão muito felizes de estar aqui.
— Tudo bem — disse Lucas enquanto usava um cabo de vassoura para tentar fazer o lustre parar de balançar — eles estavam brincando, foi só um acidente.
Camila e Violeta continuaram conversando até o fim do jantar, e foram caminhando juntas até sua cabana, conversando e rindo durante o caminho.
Ao chegar em sua cabana, Camila fez chocolate quente e trouxe seu colchão para a sala.
As duas passaram a noite vendo filmes e conversando em frente a lareira. Acabaram dormindo ali.
Cabana 1
De volta a cabana, Carlos foi escondido até a cozinha e pegou o calendário, ansioso para ver os eventos dos próximos dias. Porém, ao abrir o calendário teve uma surpresa, todos os dias estavam vazios! O único dia com algo escrito era o dia 17. Ele ficou confuso, mas já estava cansado e decidiu ir dormir.
Cabana 3
Assim que o jantar acabou, as crianças saíram correndo pela rua em direção a sua cabana, Vanessa teve que correr para acompanhá-los. E a empolgação não acabou aí, eles entraram na cabana correndo e pulando em cima dos móveis.
— Crianças! Sei que estão felizes de estar aqui, mas se não se acalmarem vão acabar nos expulsando! — falou Vanessa.
Ao ouvir isso, todos pararam imediatamente de correr, e se desculparam.
— Tudo bem… Vocês podem brincar, é só não destruírem tudo! — ela comentou, rindo — agora vamos deitar, já está tarde e amanhã vocês ainda vão ter muito tempo para fazer bagunça.
A cabana deles era maior que as outras, dispunha de 8 quartos com 4 camas cada, e um quarto com apenas uma cama, para Vanessa.
Ela decidiu separar as crianças por idade, colocando os mais novos no primeiro quarto, os mais velhos no último e os do meio nos outros quartos. Entretanto, isso não durou muito. Trinta minutos após se deitar, ela começou a ouvir passos e sussurros vindos da sala.
Vanessa foi checar o que estava acontecendo, e se deparou com todas as crianças trazendo seus colchões para frente da lareira.
— O que vocês estão fazendo? — ela perguntou.
Tiago, o mais velho do grupo, foi conversar com ela.
— Os mais novos não querem dormir sozinhos, não estão acostumados com isso. Lá no orfanato só tem um quarto para todos. Então sugeri que viéssemos todos para a sala.
Ao ouvir aquilo, Vanessa ficou muito orgulhosa de Tiago pela forma como ele lidou com a situação, ajudando seus irmãos. Lá no orfanato era sempre assim, as crianças podem dar trabalho, mas, apesar de passarem por dificuldades às vezes, sempre se ajudam e cuidam uns dos outros, como irmãos.
Coincidentemente, a sala tinha o espaço perfeito para todos os colchões, inclusive o da Vanessa, que decidiu se juntar às crianças.
Violeta acordou muito animada no dia seguinte, fazia muito tempo que não se sentia assim, ela e Camila foram até o calendário ver quais eram os planos do dia.
Todos os hóspedes abriram seus calendários e viram que na página do dia 18 só dizia uma coisa: “Venham para a rua”. Enquanto se ouvia, do lado de fora da cabana, a música “Underneath the tree”.
Ao saírem da cabana, todos ficaram surpresos, a rua agora era uma pista de patinação, e, no final dela, havia uma montanha coberta de neve com um teleférico que levava até lá em cima, para que eles pudessem descer esquiando.
Nem Violeta, nem Camila sabiam esquiar, mas elas tentaram aprender juntas. Entre tombos, esbarrões e risadas, elas aproveitaram o dia juntas.
Aquele dia foi inesquecível para todos que ali estavam, eles passaram o dia esquiando e patinando.
As crianças eram as mais felizes, havia uma criança caída a cada 2 minutos, mas elas rapidamente se levantavam e continuavam brincando.
Vicente patinava muito bem, ele até arriscava alguns passos de dança sobre os patins.
— Olha, mamãe! O papai sabe patinar no gelo! — comentou Gustavo
— Eu patinava quando era criança, já faz tanto tempo que não faço isso… — Vicente respondeu — havia um shopping perto da minha casa com uma pista de patinação, eu e meus amigos adorávamos ir lá depois da escola.
Dava para ver em seu olhar como ele estava feliz naquele dia.
Apesar das quedas e pequenos machucados, todos se divertiram muito.
Camila tentou arriscar um passo de balé enquanto patinava, e acabou caindo.
— Você está bem?
Ao perguntar, Violeta percebeu que Camila estava rindo da própria queda. Seu sorriso era tão lindo e seu olhar tão doce e gentil. Violeta se aproximou para ajudá-la, e Camila viu como os lábios de Violeta pareciam macios…
Seus rostos foram se aproximando, até que seus lábios se encontraram. Um beijo suave e muito doce. Durou apenas alguns segundos, mas foi o suficiente para elas perceberem que se queriam.
Cabana 1
De noite, Carlos ainda estava muito confuso, como no dia anterior não tinha nada escrito no calendário, e agora tinha? Foi então que ele ligou os pontos, sua família havia ganho o sorteio justamente no ano em que não comemoraria o natal, estava nevando no meio do verão e o calendário se escrevia sozinho. Era óbvio que aquela cidade era mágica!
No entanto, ele decidiu não contar isso para ninguém, afinal, adultos não acreditam em magia.
O dia 19 chegou e os hóspedes só tinham uma missão: montar a árvore-de-natal gigante que ficava na entrada da cidade.
Parecia algo simples, porém, a árvore era realmente gigante, tinha 5 metros de altura.
Eles começaram a enfeitar e conversar. Durante a conversa, Marcelo perguntou para as pessoas ali se elas já haviam viajado antes. A maioria não, apenas a família de Flávia que costumava viajar para a praia no final do ano.
Então, Camila começou a contar sobre suas viagens, ela trabalhava como fotógrafa, e viajava o mundo todo tirando fotos.
Quanto mais Camila falava sobre suas viagens, mais Violeta ficava encantada com tudo aquilo.
Depois que Camila contou sobre suas viagens, todos começaram a perguntar cada detalhe sobre tudo.
— A pizza na Itália é mesmo boa?
— Você não tem medo do avião cair?
— Qual o lugar mais bonito que você já visitou?
Ela respondeu a cada uma das perguntas, muito animada por compartilhar suas experiências.
Quando o assunto finalmente chegou ao fim, eles continuaram enfeitando a árvore em silêncio.
O silêncio durou alguns minutos e era muito estranho, então Flávia começou a cantarolar a canção “Feliz navidad”. Alguns segundos depois, todos estavam cantando juntos.
Levou horas para a árvore ser enfeitada e demandou ajuda de todos que estavam na cidade.
Cabana 4
Quando todos voltaram para suas cabanas, Violeta perguntou para Camila como ela faz para viajar tanto.
— Guardo todo o dinheiro que posso, e sempre pesquiso por promoções de viagens, sorteios, etc. Quando viajo gasto o mínimo possível, fico nos hotéis mais baratos, procuro fazer minha própria comida… Uma vez dormi na rua porque não tinha dinheiro para pagar hotel.
— Caramba! — Violeta exclamou.
— Isso faz parte do meu trabalho, sou fotógrafa e tiro fotos para sites de viagens. Infelizmente não estou conseguindo trabalho nos últimos meses, ainda bem que ganhei esse sorteio, não aguentava mais ficar enfurnada em casa! E você, trabalha com o quê? Tem interesse em viajar?
Violeta pensou um pouco antes de responder.
— Eu não faço nada… Nunca tive interesse em nada específico. Meus pais vivem reclamando por causa disso, por isso entrei em vários cursos e empregos que não gostava, assim eles paravam de encher o saco. Mas nunca funcionou por muito tempo, eu tenho crises de ansiedade quando me forço a fazer algo que odeio. Agora minha ansiedade e depressão estão muito piores, e depender dos meus pais para pagar meu psicólogo, psiquiatra e remédios só piora a situação. Sinto-me inútil — Violeta começou a chorar, e Camila a abraçou. — eu nunca comento sobre isso com ninguém, porque sempre me olham como se eu fosse uma preguiçosa que não faz nada porque não quer.
— Sinto muito por tudo isso, mas tenho certeza de que você vai superar esses problemas, olha para você agora, viajando, conversando com pessoas novas, vivendo novas aventuras… E eu te entendo, meus pais não entendem que viajar é o meu trabalho, eles sempre acham que estou só gastando dinheiro por aí…
— Eu nunca pensei em viajar, nunca saí da minha cidade, na verdade. Só me forcei a vir aqui para ficar longe dos meus pais um pouco. Mas estou feliz de ter vindo, não imaginei que poderia ser tão divertido — falou, ainda com lágrimas nos olhos.
— Bom, podemos viajar juntas sempre que quiser!
Elas ficaram ali conversando sobre todas as viagens que poderiam fazer, e acabaram dormindo juntas.
Cabana 2
No dia 20, Vicente acordou e foi direto olhar o calendário.
— Vicente, você está olhando o calendário? Se não te conhecesse, diria que está gostando do natal — comentou Vitória.
— O quê? Imagina, só queria ver qual a baboseira de hoje… — ele respondeu e foi para seu quarto.
Seu filho, Gustavo, que ouviu toda a conversa do seu quarto, sorriu. Era bom saber que seu pai estava finalmente empolgado com algo, ele vivia sempre tão estressado.
Vicente não era o único empolgado. Violeta estava muito animada com os próximos dias. Ela começou a se divertir como nunca, e decidiu começar a escrever um diário sobre a viagem.
Novamente os hóspedes tiveram um dia cheio. Primeiro, penduraram as meias na lareira, para que o papai noel colocasse os presentes. Depois, foram até o restaurante, onde Safira, a cozinheira, os estava esperando para ensinar a fazer biscoitos de natal e casinhas de gengibre.
Tudo foi um perfeito desastre. Muitos biscoitos queimados e casinhas desmontando. Safira teve que intervir várias vezes, mostrando como fazer as casinhas ficarem de pé, e retirando as receitas do forno antes que queimassem.
Os adultos perceberam que, cada um fazer sua própria massa de biscoito e gengibre não estava dando certo, então decidiram se unir, e cada um ficou responsável por uma etapa.
Vicente e Vitória faziam a massa dos biscoitos, Flávia e Marcelo a massa das casinhas, e Violeta e Camila faziam os moldes e colocavam para assar. Enquanto Vanessa retirava as assadeiras do forno, montava as casinhas e as crianças enfeitavam.
Algo parecia errado, Safira tinha que ir à dispensa a cada 5 minutos pegar mais gotas de chocolate, e Vanessa percebeu que o lugar estava quieto demais. Ao contar às crianças, perceberam que estavam faltando os 6 mais novos.
Vanessa e Safira procuraram pelo restaurante todo, e quando foram do lado de fora, encontraram, de frente a porta, 6 crianças comendo vários pacotes de gotas de chocolate.
Após trazer as crianças para dentro, elas começaram a enfeitar suas casinhas e biscoitos, junto aos outros.
Carlos e Carol tiveram a ideia de fazer uma casinha de gengibre igual à sua árvore-de-natal, cada um fez um lado. Metade da casinha ficou fofa e colorida, e a outra completamente preta, com uma caveira desenhada.
Após passarem o dia inteiro no restaurante preparando os doces, cada um pegou os que havia enfeitado para levar para sua cabana. Mas ainda faltava uma atração aquela noite!
Ao saírem na rua, o Papai Noel estava sentado em uma cadeira vermelha do lado de fora, esperando por eles.
Uma a uma, as crianças foram conversar com ele, falando sobre seus pedidos e cartinhas.
— E você, Gustavo, o que pediu? — o papai noel perguntou, olhando para Gustavo, que ainda não tinha ido falar com ele.
— Ah, não importa, meu pedido já está se tornando realidade! — ele respondeu.
— Oras, então peça outra coisa! — disse o papai noel.
Cabana 4
Camila entrou no quarto de Violeta para oferecer uma xícara de chocolate quente, e a encontrou escrevendo em uma agenda.
— Fiz chocolate quente para você — falou, entregando a xícara — O que está fazendo?
— Escrevendo sobre a viagem… Sempre gostei de escrever, mas faz muito tempo que não faço isso.
— Por que não?
— Quando eu era criança adorava escrever histórias e poemas, mas, um dia, eu estava escrevendo durante a aula e meu professor chamou minha atenção. Ele pegou o poema que eu estava escrevendo da minha mão, leu na frente da sala inteira e fez piadas sobre o meu texto devido aos erros ortográficos e “rimas idiotas”. Depois me disse que eu não servia para ser escritora. Fiquei com tanta vergonha que nunca mais escrevi.
— Que filho da… — comentou Camila em voz alta — Você era só uma criança, não tinha que saber todas as regras de ortografia. Que se dane o que ele acha, se você gosta de escrever, escreva!
— Eu sei… Não me importa mais se alguém vai gostar dos meus textos ou não, estou escrevendo para mim, porque quero me lembrar de cada detalhe dessa viagem.
Violeta terminou de escrever e foi tomar seu chocolate quente com Camila, novamente elas passaram a noite conversando e se divertindo, e a noite acabou em um doce e delicado beijo, dessa vez longo e cheio de paixão. A partir desse dia, elas passaram a dormir na mesma cama, passando as noites juntas até o fim da viagem.
Cabana 3
No dia seguinte, Vanessa recebeu uma ligação da diretora do orfanato. Algo muito estranho estava acontecendo. De repente, 33 famílias apareceram no orfanato, interessadas em adotar as crianças. A diretora falou que elas estavam viajando, e que voltariam no dia 25, e as famílias poderiam ir lá para conhecê-las.
Muito animada com a novidade, Vanessa contou para as crianças, que ficaram muito empolgadas.
— Meu pedido se realizou! — gritou Murilo — será que dá tempo de fazer outro?
Então ele contou sobre seu pedido para Vanessa, e ela disse que ele poderia escrever outra cartinha para o papai noel.
Os eventos do dia 21 eram diferentes, no calendário só dizia para seguir o Lucas, que estava do lado de fora da cabana, esperando por eles.
— Muito bem, visitantes, hoje é um dia especial. A Saturnália foi criada com o intuito de comemorar o natal com todas as suas tradições, porém, temos um problema. Como vocês sabem, aqui no Brasil não faz frio no final do ano, então nosso natal é bem diferente. Por favor, sigam-me.
Eles desceram três ruas, viraram à esquerda e chegaram a um parque aquático. Estranhamente, aquela parte da cidade estava muito quente, perfeito para nadar e comer um churrasco, que já estava sendo preparado pela Safira.
O parque tinha tobogãs, várias piscinas, inclusive uma que simulava as ondas do mar, e até uma cachoeira!
Além é claro de uma barraca de sorvete, para se refrescarem naquele calor.
Enquanto as crianças faziam fila e ajudavam uns aos outros a descer no tobogã, os adultos descansavam e conversavam na piscina. Violeta e Camila decidiram pegar uma prancha e tentar surfar na piscina de ondas. As duas caíram várias vezes, se equilibrar em uma prancha é bem mais difícil do que elas imaginavam.
Depois todos foram para a cachoeira e agradeceram por estar calor, pois a água da cachoeira estava extremamente gelada.
Todos passaram o dia no parque se divertindo ao som de “Last Christmas”, comendo e tomando sorvete, e, quando perceberam, já estava anoitecendo.
No dia seguinte, era o dia da feira natalina. A rua estava cheia de barracas de comidas, competições e jogos.
Havia barraquinhas de todos os tipos de doces natalinos e panetones, e ninguém perdeu a oportunidade de provar um pouco de tudo.
As cabanas de jogos de tiro ao alvo e pescaria davam ursinhos de pelúcia como prêmio, as crianças ficaram jogando por horas, dando dicas umas às outras, e só se deram por satisfeitas quando cada uma havia ganhado um.
Teve também uma competição de quem decorava melhor a casinha de gengibre. Vicente ajudou seu filho a decorar sua casinha, e Gustavo acabou ganhando a competição por voto popular. Ele ficou muito empolgado, não só por ganhar, mas por ter a ajuda de seu pai.
No fim da tarde, Carlos e Carol perceberam que havia uma tradição de natal que eles ainda não haviam feito. Então, eles começaram a fazer bonecos de neve. Seus pais viram o que estavam fazendo, e foram ajudá-los. Alguns instantes depois, todos ali estavam fazendo bonecos de neve.
Eles fizeram vários bonecos dos dois lados da rua, e os enfeitaram com cachecóis, botões no lugar dos olhos e cenouras no lugar do nariz.
— Agora que montamos o boneco, só falta fazer uma coisa — falou Carol, pegando um pouco de neve do chão, e jogando em seu irmão.
Os dois começaram uma guerra de bola de neve e acabaram acertando seus pais, que também entraram na brincadeira.
As crianças ao redor se empolgaram, e começaram a jogar neve umas nas outras também, e, quando perceberam, até mesmo os adultos estavam participando.
Vinte minutos se passaram. Apesar de muito divertida, a guerra de bolas de neve tem um problema, é gelada! Todos já estavam quase congelando, então decidiram parar a guerra e voltar para suas cabanas, para tomar um banho e um chocolate quente.
O natal já estava quase acabando, era dia 23 e ninguém vira o tempo passar.
Para esse dia, o primeiro evento era o parque de diversões, que ficava na rua atrás das cabanas.
As crianças e adolescentes se divertiram muito, passaram o dia todo indo nos brinquedos mais radicais do parque e Vanessa estava sempre correndo para lá e para cá, para garantir que todos estavam bem.
Havia brinquedos de todos os tipos e para todas as idades, mas, o que mais chamou a atenção de todos foi a roda gigante, que permitia uma vista linda de toda a cidade e, durante o anoitecer, a vista ficava ainda mais linda com o sol se pondo e as luzes de natal.
Enquanto as crianças se divertiam, os casais decidiram andar na roda gigante, pois parecia muito romântico.
Cada casal entrou em uma cabine, inclusive Violeta e Camila. Um por um, os casais foram chegando no topo da roda gigante, e ficaram admirados com aquela vista espetacular. Todos ficaram em silêncio, pois parecia impossível colocar em palavras toda a beleza que estavam vendo. Com esse clima romântico e calmo, os casais deram as mãos, se abraçaram e se beijaram lenta e carinhosamente. Como se fosse o primeiro encontro.
O segundo evento foi a noite, todos se reuniram em volta de uma fogueira no meio da rua e começaram a conversar enquanto comiam marshmallows e contavam histórias de terror.
Por fim, o dia 24 finalmente chegou e todos estavam muito empolgados e curiosos para ver o que estava planejado para aquele dia.
As crianças foram chamadas para treinar para o coral, que cantaria durante o jantar de natal. Elas ficaram o dia todo ensaiando, pois queriam surpreender seus pais. E eles puderam aproveitar para passar um tempo a sós.
O jantar finalmente começou, as crianças fizeram uma linda apresentação natalina, cantando a música “Natal todo dia”, e emocionando todos os convidados.
Depois que as crianças terminaram sua apresentação, Violeta falou:
— Eu… Eu escrevi um poema sobre essa viagem… E gostaria de ler para vocês, se não tiver problema…
— Claro que não! — disse Flávia.
— Leia, por favor! — falou Lucas.
— Certo… Me desculpem o nervosismo, não estou acostumada a falar em público.
“Sob o manto das estrelas a brilhar,
Neste Natal, meu coração a dançar,
Em meio a risos e luzes a brilhar,
É o melhor Natal que pude abraçar.
A presença de cada um aqui,
Só torna esse lugar mais especial
Tudo aqui parece mágico
E vocês são a luz, que ilumina esse local.
Na mesa, o banquete de sonhos e sabor,
Em cada prato, o amor que transcende a dor,
Que me faz sentir o calor e o esplendor,
A vida, passo a dar valor.
Ao sair na rua, tudo é tão lindo de se ver!
A neve caindo, e as pessoas sorrindo
Todos sempre se ajudando,
Para um perfeito natal, colaborando.
Ergo a taça para brindar a felicidade,
Neste Natal que colore a realidade,
Cada momento é uma sublime verdade,
O melhor Natal, repleto de serenidade.
Alguns dias atrás,
Eu jamais pensaria em falar em público,
Mas aqui me sinto livre para mostrar a essência do meu ser,
Sem me preocupar em como vou parecer.
Nunca me senti tão bem!
A felicidade aqui, contagia o meu ser,
As notas sublimes das cantigas natalinas a tocar,
Esse é o único lugar em que quero estar.
Guardarei cada um aqui no meu coração,
Cada minuto dessa jornada,
Fará parte da minha caminhada.
Que este encanto perdure em nosso ser,
Que o amor e a alegria jamais venham a se desvanecer,
Esse é o melhor natal
E a todos aqui, sempre irei agradecer.”
Quando ela terminou de ler, estava com lágrimas nos olhos, e todos a aplaudiram de pé.
Em seguida, o jantar foi servido. Novamente Safira havia preparado um menu delicioso, com várias comidas típicas.
Após o jantar, todos decidiram fazer outro coral, desta vez com crianças e adultos. Eles colocaram a música “We wish you a merry christmas”, e começaram a cantar.
Como não haviam treinado, acabaram saindo de sincronia várias vezes até conseguirem cantar juntos.
À meia-noite em ponto, todos saíram na rua para ver a queima dos fogos de artifício, havia várias cores explodindo no céu. Os fogos de artifício dançavam no ar, desenhando figuras mágicas e deixando rastros brilhantes que se dissolviam lentamente.
Enquanto todos admiravam as luzes no céu, ouviu-se um sibilar de sinos, e, logo após, renas apareceram voando no horizonte, trazendo um trenó vermelho. Dentro do trenó estava o bom velhinho, carregando um saco vermelho cheio de presentes.
As renas descem até o telhado de uma das cabanas, enquanto todas as crianças, e até mesmo os adultos, assistem, encantados.
O Papai Noel entrou nas chaminés de todas as cabanas, uma por uma, e subiu novamente em seu trenó, desaparecendo no céu.
Todos os adultos ainda estavam perplexos com aquilo e as crianças entraram correndo em suas cabanas para pegar seus presentes.
Cabana 1
Carlos foi o primeiro a abrir seu presente, dentro do embrulho com seu nome havia um PS5, vários jogos e um vale-presente para que ele pudesse comprar os jogos que quisesse.
No presente de Carol havia um bilhete:
“Estou muito orgulhoso de você, é muito nobre pedir algo para seu pai em vez de si mesma. Assinado: Papai Noel”
Ao abrir o presente, Carol ficou extremamente feliz, ela havia ganho um celular e um notebook, exatamente o que ela precisava, pois usava ambos para estudar, mas seu celular estava muito velho e o notebook não funcionava mais.
Na meia de Flávia também haviam 2 presentes, um era uma caixa enorme, e o outro, um envelope pequeno. Ela abriu a caixa grande e encontrou centenas de livros lá dentro junto a uma estante desmontada. Ainda surpresa, pois não esperava receber presentes, ela abriu o envelope, que continha um bilhete:
“Abra a sua loja!”
E um cheque de 500 mil reais.
O presente de Marcelo era apenas um bilhete escrito:
“Abra seu E-mail”.
Foi exatamente o que ele fez, e encontrou uma mensagem de uma empresa para a qual havia enviado um currículo meses atrás. A empresa queria contratá-lo.
Cabana 2
Gustavo recebeu uma caixa com brinquedos, videogame e um tablet.
No presente de Vicente também dizia para que ele olhar o E-mail, e, ao fazer isso, ele viu que havia recebido uma proposta para trabalhar em outra empresa com um salário melhor e carga horária reduzida. Assim, poderia passar mais tempo com sua família.
Já Vitória ganhou um bilhete dizendo:
“Não se preocupe, sua família terá muita saúde e paz a partir de agora”.
Junto a esse bilhete, veio uma chave. Em frente a sua casa, em São Paulo, havia um carro novo em seu nome, esperando por ela.
Cabana 4
Na meia havia um bilhete que dizia apenas: “Camila, seu presente está no seu e-mail”
Ao abrir o e-mail, havia uma mensagem de um site de viagens, oferecendo passagens, hospedagem e comida de graça para onde Camila quisesse ir, desde que ela fotografasse tudo e enviasse as fotos para a empresa usar como marketing. E, claro, ela poderia levar um acompanhante.
O presente de violeta estava em um envelope, ela o abriu e encontrou um bilhete dizendo:
“Infelizmente, não posso simplesmente curar sua depressão e ansiedade, mas sei quem pode ajudar. Paguei por todas as suas sessões de terapia para os próximos 12 meses, e todos os remédios que possa precisar serão enviados para você gratuitamente. Acredito que em um ano você já terá condições de pagar pelas sessões sozinha”
Com esse bilhete, havia um documento, era o contrato de uma editora, eles receberam a história que ela escreveu sobre a viagem e estavam interessados em publicá-la gratuitamente.
Ambas estavam extremamente felizes com seus presentes, e ainda em choque por ganharem tanta coisa. De onde vieram esses presentes? Como sabiam que Violeta estava escrevendo um diário? E como enviaram esse diário para uma editora?
Parecia magia.
Ainda sem entender, Camila colocou “All I want for christmas is you” para tocar, e começou a cantar para Violeta.
Cabana 3
Tudo estava uma zona naquela cabana. As famílias que estavam interessadas em adotar as crianças já estavam no orfanato, esperando para conhecê-las. E, como se isso não fosse o suficiente para fazer daquele o melhor dia da vida das crianças, eles também receberam vários presentes, mais do que pediram. Livros, carrinhos, bonecas, jogos, celulares, tablets, drones… Eram tantos presentes que Vanessa não sabia como faria tudo aquilo caber nas malas. As crianças não paravam quietas, corriam para todos os lados com seus brinquedos novos.
— Olha, tia Vá, tem um presente para você também! — gritou Rafael, mexendo nos presentes.
Vanessa foi abrir seu presente, havia um bilhete em cima:
“O amor e carinho que tem por essas crianças é muito lindo! Você tem um coração de ouro, e é claro que o papai noel não se esqueceria de você!”
Dentro da pequena caixa vermelha, Vanessa encontrou uma chave e os documentos de uma casa, no nome dela.
Fim
Depois de muitos sorrisos e comemorações, era hora de voltar para casa. Os hóspedes pegaram o ônibus que os levou até o aeroporto, e foram de avião para suas cidades.
Ao chegar em casa, Carol decidiu postar nas redes sociais as fotos da viagem, mas, ao abrir a galeria do seu celular, percebeu que não havia nenhuma.
Ela comentou com os seus pais, que perceberam que as fotos deles também haviam sumido.
Enquanto isso…
Vicente recebeu uma mensagem estranha. Sua mãe estava perguntando como havia sido o natal no Rio de Janeiro.
Por que ela acha que fomos para o Rio? Ele se perguntou, e comentou com sua esposa.
— Que estranho, minha colega de trabalho fez uma pergunta parecida — falou Vitória — quando tentei explicar que fui para Saturnália, ela se lembrou que tinha um compromisso urgente e saiu.
Vicente tentou enviar uma mensagem para sua mãe dizendo que passaram o natal em Saturnália, mas houve uma falha no envio da mensagem. Nesse mesmo instante, Vitória estava conversando com sua colega no telefone sobre sua viagem, e quando falou a palavra “Saturnália” a ligação caiu.
Achando aquilo muito estranho, eles foram pesquisar na internet sobre a cidade, e descobriram que não havia nenhuma cidade com esse nome.
Eles tentaram contatar Camila e Violeta para ver se estavam tendo o mesmo problema, mas o celular delas estava sem sinal.
No orfanato, todas as crianças foram adotadas por famílias muito amorosas, e, apesar de agora morarem em casas diferentes, elas continuavam se vendo todos os fins de semana e estudando na mesma escola.
Violeta e Camila passaram o ano todo viajando juntas. Camila fotografava toda a viagem, e Violeta escrevia sobre suas aventuras. Após a publicação do seu primeiro livro, “Saturnália”, se tornar um grande sucesso, ela agora está prestes a publicar um segundo livro, sobre duas garotas apaixonadas que viajam o mundo juntas.
Ela continuou seu tratamento e, um ano depois, já estava muito melhor, não precisava mais de remédios, mas continuava frequentando as sessões de terapia online todas as semanas.
O dia 25 passou e, com isso, a cidade mágica de Saturnália desapareceu. Mas não se preocupem, no dia 17 de dezembro do próximo ano, ela voltará.
A cidade do natal e seus moradores estarão sempre aqui para ajudar os que precisarem.
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