Eu sou livre?




 Por Lud Fernandes

Acreditava, até poucos segundos atrás, que todas as decisões da minha vida tinham sido minhas. Mas então parei para pensar.

Por muito tempo, meus pais me obrigaram a seguir as regras de uma igreja que eu mal compreendia. Quando decidi estudar outras religiões e sair do fanatismo cristão, senti que finalmente havia feito uma escolha minha. Talvez tenha sido a primeira.

Depois, “escolhi” trabalhar. Não por vontade, mas por necessidade. Queria estudar, fazer cursos, praticar esportes. Mas meus pais não tinham condições, e o trabalho virou minha única alternativa para ter o mínimo de autonomia.

Escrevo porque amo escrever, porque sou boa nisso. Mas viver disso é quase impossível. Então, quando precisei escolher uma carreira, não levei em conta o que mais amo, e sim o que dá dinheiro e onde também sou boa: tecnologia.

Acabei me apaixonando pela área, mas sejamos sinceros: não foi uma escolha. Foi uma reação à vida.

Quase nada no meu caminho foi fruto de liberdade plena. Tudo foi decisão dentro de um jogo de cartas marcadas, onde as opções reais eram poucas — e as ilusões de escolha, muitas.

Se eu fosse realmente livre — livre do peso do julgamento, do dinheiro, da falta de tempo —, será que seria quem sou hoje? Duvido. Talvez nem reconhecesse a pessoa que sou.

Não sou livre. Apenas reajo às opções que me deram.

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